Qual a relação entre sono e produtividade no trabalho?

Ter um sono de qualidade é essencial para a saúde e o bem-estar de todo e qualquer ser humano. 

Dormir bem impacta diretamente em diversos temas do cotidiano, como: prevenção de doenças, alimentação balanceada, prática regular de exercícios e, também, produtividade no trabalho ou em qualquer outra área da vida.

Desta forma, uma pessoa que dorme mal enfrenta desafios para cumprir suas tarefas diárias, assim como exercer a sua criatividade, estar disposta, manter-se concentrada e, sobretudo, ser feliz no seu trabalho. 

Ansiedade, estresse, sedentarismo, hábitos ruins e fatores externos são algumas das razões que interferem negativamente na qualidade do sono e, consequentemente, na produtividade do dia a dia do trabalho.

Vale destacar ainda que passamos cerca de um terço das nossas vidas dormindo e existem razões claras para isso. Afinal, o sono não é somente uma oportunidade de descanso, mas também um processo regenerativo. 

É o sono que otimiza e alavanca processos fisiológicos responsáveis por restaurar o corpo e a mente.

Para se ter uma ideia de como o assunto é essencial para a sociedade, em março, é realizada a Semana do Sono. Criada pela Associação Brasileira do Sono e outras entidades correlatas, a semana acontecerá de 13 a 19 de março de 2023, com o objetivo de trazer para a população informações qualificadas, novidades e as últimas pesquisas sobre o tema.

Os mitos da produtividade

Infelizmente, ainda é comum lermos textos e frases de efeito que alegam que tudo deve ser sacrificado em prol da concretização de objetivos, incluindo o sono. 

Com certeza, você já ouviu afirmações como “trabalhe enquanto eles dormem”, “para quê dormir se, no final de semana, você pode compensar?”, “o seu corpo se adapta a dormir menos” e “ninguém muda o mundo trabalhando 40 horas por semana”.

A boa notícia é que a ciência vem desmentindo esses argumentos baseado em senso comum e fortalecendo a importância da saúde mental. Logo, trabalhar de maneira exaustiva não é sinônimo de produtividade. 

Ser produtivo é fazer o tempo render mais, isto é, começar e finalizar tarefas de forma satisfatória dentro dos prazos combinados.  

Somente pessoas que vivem as etapas do sono com qualidade são capazes de atingir a sua máxima potência, conquistar as suas metas e, assim, realizar os seus sonhos.

O que é dormir bem e dormir mal?

Antes de atestar que você tem um sono ruim, é preciso entender o que é, de fato, um sono bom. De acordo com a médica especialista em Medicina do Sono, Dra. Fernanda Silveira Chrispim, existem alguns indícios que tornam possível essa análise mesmo que superficial.

Sinais de que você TEM uma boa noite de sono:

• Não acordar mais do que uma vez por noite;
• Conseguir dormir em até meia hora após se deitar;
• Do tempo total que você passa na cama, 85% é em estado de sono;
• Ao despertar na madrugada, consegue voltar a dormir em até 20 minutos.

Sinais de que você NÃO TEM uma boa noite de sono:

• Sensação constante de preguiça;
• Sentir-se cansado logo ao acordar;
• Demorar para dormir após se deitar;
• Acordar com dores frequentemente;
• Depender de cafeína para se manter ativo.

A pandemia do Coronavírus impactou na qualidade do sono?

Como vimos anteriormente, os hábitos ruins não são os únicos responsáveis pelo sono de má qualidade. Fatores externos também podem impactar o sono negativamente e, como consequência, afetar a produtividade no trabalho.

A necessidade de fazer isolamento social para frear os efeitos da pandemia do Coronavírus, com início em 2020 no Brasil, por exemplo, causou transformações profundas no padrão do sono dos brasileiros.

Isso é o que indica uma pesquisa promovida pelo Instituto do Sono entre os meses de junho e julho de 2020. No estudo, 55% dos entrevistados confirmaram a piora do sono ao longo da quarentena.

O medo do vírus, a maior exposição às telas e a falta de entusiasmo ou perspectiva foram alguns dos motivos citados pelos respondentes. O Instituto do Sono ouviu cerca de 1.600 pessoas de 24 estados brasileiros.

Quais são as doenças causadas pelo sono de má qualidade?

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que cerca de 40% da população mundial possui algum tipo de dificuldade para dormir. Essas dificuldades, no entanto, podem se transformar em doenças a médio e longo prazo.

De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, os distúrbios do sono mais comuns são: insônia, apneia obstrutiva do sono e síndrome das pernas inquietas.

Insônia: dificuldade em começar a dormir, manter o sono durante a noite ou despertar antes do horário desejado com frequência. 

Episódios esporádicos de insônia são considerados normais, mas a repetição caracteriza uma doença crônica que provoca sofrimento ao longo dos anos e é capaz de se retroalimentar com a preservação de hábitos ruins.

Apneia obstrutiva do sono: este distúrbio é a parada da respiração por mais dez segundos causada pela obstrução da via aérea no nível da garganta durante o sono com impacto no fornecimento de oxigênio ao corpo (hipoxemia).

Após a parada, que pode ocorrer várias vezes durante a noite, o indivíduo acorda com um ronco bastante barulhento. Se não tratada, a apneia obstrutiva do sono pode desenvolver, por exemplo, doenças cardiovasculares, infarto e acidente vascular cerebral.

Síndrome das pernas inquietas: como o próprio nome sugere, esse distúrbio é caracterizado pela agitação involuntária dos membros inferiores. 

Os sintomas costumam ser mais intensos à noite, prejudicando o sono. Em casos mais graves, a inquietação também pode ocorrer nos braços.

Dicas para dormir bem e melhorar a produtividade no trabalho

Em 2020, uma cartilha com recomendações de rotina para melhorar a qualidade do sono foi lançada pela Associação Brasileira do Sono (ABSONO). As dicas básicas são:

1. Alimentar-se de forma saudável;
2. Praticar exercícios físicos com regularidade;
3. Avaliar a qualidade do colchão e do travesseiro;
4. Deixar a luz natural entrar pelas janelas dos cômodos;
5. Evitar dispositivos eletrônicos próximo ao horário de dormir;
6. Investir tempo para entender qual a sua necessidade pessoal de sono;
7. Evitar o uso de estimulantes como bebidas alcoólicas, café, chá preto, cigarro, etc.;
8. Incluir alguns hábitos relaxantes pelo menos 1 hora antes de dormir (ler um livro, ouvir música e meditar são alguns exemplos).

Se as dicas não adiantarem e a dificuldade para dormir se tornar cada vez mais frequente e incômoda, lembre-se de buscar orientação médica. Quanto mais cedo o diagnóstico, melhores as chances de reversão e, principalmente, de restaurar a normalidade no seu dia a dia com mais rapidez.