Módulo 1: Saiba tudo sobre a Oxigenoterapia
1.1 Entendendo a Oxigenoterapia: benefícios e indicações
O ar atmosférico é formado por uma mistura de vários gases, incluindo nitrogênio, oxigênio, gás carbônico e gases nobres. O nitrogênio e o oxigênio são os componentes mais abundantes, enquanto os outros gases estão presentes em quantidades menores.
O oxigênio, também conhecido como O2, presente no ar atmosférico é de extrema importância para a manutenção da vida no planeta, pois através do processo de respiração, ele é inalado até chegar aos pulmões, perfundido pelo sangue, atingindo as células de todos os seres vivos denominados aeróbios. O oxigênio é um componente essencial para manter o metabolismo das células e deve ser fornecido continuamente para os tecidos do corpo.
Em determinadas patologias ou condições clínicas, onde há um processo respiratório deficiente ou a necessidade de incrementar a oxigenação dos tecidos, faz-se necessária a administração de oxigênio em concentrações superiores a 21%, denominada de oxigenoterapia.
Sendo assim, define-se como oxigenoterapia, a administração terapêutica de O2 em concentrações superiores das encontradas no ar ambiente (21%), com o objetivo de aumentar a pressão parcial de oxigênio a nível alveolar, favorecendo uma maior difusão de O2 e ampliando a quantidade carreada pelo sangue aos tecidos.
A oxigenoterapia é um tratamento já conhecido, muito usado para tratar doenças do pulmão e do coração. Seu uso facilita a respiração, melhora o metabolismo do corpo, aumentando a força do coração e dos músculos em geral.
Saiba mais sobre o Oxigênio Medicinal
Os gases medicinais são enquadrados como medicamentos e, portanto, são regulados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), podem ser utilizados em hospitais, clínicas de saúde ou outros locais de interesse à saúde, bem como em tratamentos domiciliares.
Além disso, para melhor diferenciação entre gases medicinais e industriais, o INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) estabelece cores de cilindros específicas para cada gás e destinação. Dessa forma, o oxigênio medicinal deve ser acondicionado em cilindros verdes, enquanto o oxigênio industrial deve ser comercializado em cilindros pretos, por exemplo.
Um mesmo gás pode ter aplicações medicinais e industriais. Todavia, de acordo com a destinação de uso do gás existem diferentes critérios de pureza e qualidade. Os gases medicinais devem cumprir os critérios estabelecidos na Farmacopéia Brasileira e ser fabricados por empresas licenciadas e autorizadas pelas autoridades sanitárias competentes. Essas empresas também devem seguir as Boas Práticas de Fabricação de gases medicinais, conforme as normativas atuais da Anvisa.
O oxigênio medicinal, fornecido em forma gasosa comprimida em cilindros, líquida ou por meio de concentradores, é o gás mais utilizado na saúde, com aplicações amplas e indicações clínicas bem estabelecidas.
No contexto hospitalar, é utilizado em diversos setores e finalidades, como na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em procedimentos anestésicos, no suporte ventilatório, em reanimação cardiorrespiratória, na terapia hiperbárica e ainda como veículo na administração de medicamentos por inalação. Já no contexto domiciliar, a oxigenoterapia aplicada por meio de cilindros de oxigênio para backup e concentrados estacionários tem como objetivo principal proporcionar mais conforto e autonomia (com o uso de concentradores portáteis) para pacientes portadores de doenças crônicas, como DPOC e fibrose cística, além de reduzir riscos de infecções e possíveis reinternações.
Indicações para Oxigenoterapia
Algumas pessoas com doença pulmonar ou determinadas condições são incapazes de obter oxigênio suficiente através de uma respiração habitual e precisam de suplementação para manter as funções vitais normais.
Aceita-se como indicação da necessidade de oxigenoterapia a presença de PaO2 (Pressão Parcial de Oxigênio) < 55mmHg, ou entre 56-59 mmHg na presença de sinais sugestivos de cor pulmonale (disfunção do ventrículo cardíaco direito causada por doença pulmonar), insuficiência cardíaca congestiva ou eritrocitose (hematócrito > 55%).
Adultos e crianças com doenças pulmonares como, por exemplo, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), fibrose pulmonar, ou Displasia Broncopulmonar (DBP) podem precisar deste tipo de terapia, além de outras condições transitórias, como por exemplo a pneumonia. A oxigenoterapia protege o organismo dos efeitos colaterais da hipoxemia (baixos níveis de O2 no sangue), permitindo uma melhor qualidade de vida aos pacientes dependentes.
Estudos realizados em portadores de DPOC com baixos níveis de oxigênio no sangue arterial demonstraram que o uso de oxigênio domiciliar de no mínimo por 15 horas/dia, prolonga a expectativa de vida desses pacientes.
Benefícios da Oxigenoterapia
Indicada como um medicamento, a oxigenoterapia é utilizada para tratar condições respiratórias, promovendo a recuperação e a qualidade de vida dos pacientes. Conheça alguns dos principais benefícios da oxigenoterapia:
- Melhora na expectativa de vida;
- Melhora do sono e qualidade de vida;
- Melhora da função cardíaca e pulmonar;
- Maior capacidade de locomoção e de manter uma vida social.
A oxigenoterapia contribui para o aumento da sobrevida dos pacientes ao melhorar as variáveis fisiológicas e os sintomas clínicos. Essa intervenção eleva a qualidade de vida, aumentando a tolerância ao exercício, diminuindo a necessidade de internações hospitalares e promovendo melhorias nos sintomas neuropsiquiátricos associados à hipoxemia crônica.
Do ponto de vista fisiológico, a suplementação de oxigênio melhora a sua disponibilidade para as células e reduz a policitemia secundária. Além disso, alivia o estresse miocárdico causado pela hipoxemia, diminuindo arritmias cardíacas, especialmente durante o sono. A oxigenoterapia também estabiliza, atenua e, em algumas situações, reverte a progressão da hipertensão pulmonar, podendo ainda melhorar a fração de ejeção do ventrículo direito.
Em relação à função pulmonar, alguns estudos indicam que ela pode se estabilizar com o uso de oxigenoterapia. É comprovado que pacientes com DPOC conseguem aumentar a distância de caminhada e a resistência ao exercício quando recebem oxigênio. Adicionalmente, a oxigenoterapia reduz a necessidade de internações, justificando seu custo-benefício na prescrição.
Quando se trata de distúrbios neuropsíquicos, que são frequentes em pacientes com hipoxemia crônica, o padrão frequentemente observado é semelhante ao do indivíduo idoso, como: dificuldade para concentração, perda da memória e redução na habilidade de abstração, no qual com o uso da oxigenoterapia há redução da hipoxemia, consequentemente diminuindo esses sintomas.
Contraindicações da Oxigenoterapia
Não existem contraindicações absolutas para a administração de oxigenoterapia. No entanto, sua administração pode ser limitada em certas situações, de acordo com algumas enfermidades associadas, características dos pacientes, aspectos sociais e demográficos, como:
- Persistência do tabagismo;
- Enfermidades psiquiátricas graves;
- Falta de adesão ao tratamento farmacológico prescrito;
- Residência em áreas de difícil acesso e problemas no fornecimento de energia elétrica;
- Dificuldades do paciente ou dos familiares em compreender os riscos do tratamento e em seguir as medidas de segurança.
A oxigenoterapia geralmente não é recomendada para pacientes com dispneia sem hipóxia, devido ao risco de hipercapnia, especialmente em indivíduos com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) ou insuficiência respiratória tipo 2.
Além disso, o uso indiscriminado da oxigenoterapia, pode acarretar efeitos adversos no sistema pulmonar e no sistema nervoso central, resultando em uma série de complicações, como estresse oxidativo, vasoconstrição generalizada, danos pulmonares (como barotrauma), hipercapnia por reinalação e intoxicação tecidual por oxigênio.
A importância da Prescrição Médica
Desde 2008, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) considera o oxigênio um medicamento. Por isso, é fundamental que haja prescrição médica para garantir que a oxigenoterapia seja realizada de forma segura e em conformidade com as normas.
A prescrição pode ser definida pelo profissional habilitado com base em uma faixa de saturação alvo, e os pacientes em uso de oxigenoterapia devem ser monitorados e o oxigênio titulado a depender desta faixa.
A cada litro de O2 associado ao ar ambiente eleva a FiO2 em torno de quatro pontos percentuais, como, por exemplo, com um fluxo de O2 de 1 L/min, corresponde a uma FiO2 de 24%.
A prescrição médica geralmente inclui a taxa de fluxo, a duração do uso, o tipo de fonte de oxigênio e a saturação alvo de oxigênio. Saiba mais:
- A taxa de fluxo refere-se à quantidade de oxigênio suplementar que atende às necessidades do paciente, podendo ser constante em litros por minuto (LPM) ou variar de acordo com as atividades diárias;
- A duração do uso refere-se ao número de horas por dia em que a oxigenoterapia deve ser administrada, como por exemplo uso noturno ou uso por 24hs;
- O tipo de equipamento a ser utilizado para o fornecimento de oxigênio, como, por exemplo, um concentrador de oxigênio;
- A saturação alvo de oxigênio é a faixa específica que o paciente deve manter, levando em consideração sua a doença de base.
O uso do oxigênio medicinal deve ser aplicado com segurança, sendo indicado apenas quando necessário. A inclusão desse tratamento na prescrição médica, com a definição de critérios adequados, é essencial para reduzir os riscos associados ao uso inadequado desse gás, garantindo a máxima eficácia da oxigenoterapia.
Além disso, estabelecer uma meta de saturação na prescrição é fundamental para avaliar a necessidade da oxigenoterapia, bem como para considerar a possibilidade de suspensão ou desmame.
Exame Clínico e Monitoramento Domiciliar
A equipe multidisciplinar irá confirmar se a quantidade de oxigênio no seu sangue está baixa por meio desses testes:
- Gasometria arterial: uma pequena quantidade de sangue é retirada de uma artéria. Esse teste é muito preciso e mede a quantidade de oxigênio e dióxido de carbono no sangue.
- Oximetria de pulso: um dispositivo posicionado em seu dedo estima a quantidade de oxigênio no sangue. Esse teste é simples e sem dor. Geralmente é realizado em duas etapas: em repouso e durante os esforços.
Conforme as diretrizes publicadas em 2022 pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, em um indivíduo adulto e hemodinamicamente estável, a oferta de O2 segura deve ter a saturação alvo ≥ 94 a 98% para as insuficiências respiratórias do tipo 1 com quadro de hipoxemia, onde só a captação de O2 está prejudicada. Já, nos casos onde há risco de insuficiência respiratória hipercápnica, a oferta de O2 tem faixa de saturação alvo ≥ 88 a 92%, como no caso insuficiências respiratórias do tipo 2, tanto a captação de O2 como a excreção de CO2 (Dióxido de Carbono) está prejudicada.
Riscos, Toxicidade e Efeitos Colaterais
A compreensão dos riscos, toxicidade e efeitos colaterais é fundamental para uma abordagem segura e eficaz em tratamentos médicos como a oxigenoterapia, garantindo que os benefícios superem os potenciais danos à saúde dos pacientes.
Podemos citar três categorias de riscos associadas à oxigenoterapia: riscos físicos, riscos, fisiológicos e riscos metabólicos. Saiba mais detalhes no próximo conteúdo.
Conclusão
A oxigenoterapia pode ser definida como qualquer forma de fornecimento de oxigênio suplementar, com concentrações superiores das encontradas no ar ambiente (21%), com o intuito terapêutico, podendo ser dividida em duas vertentes. A primeira refere-se às pessoas que se encontram em situação de risco iminente de morte, como nos casos de insuficiência respiratória, parada cardiorrespiratória, coma ou choque. De outro lado, há indicação para fornecimento em terapia de longo prazo — condições crônicas —, normalmente em caráter domiciliar, como ocorre com os portadores de fibrose cística, doença pulmonar obstrutiva crônica, entre outros.
Por fim , o oxigênio é considerado um fármaco e deve ser prescrito por médicos segundo evidências apontadas cientificamente, além disso é importante ressaltar que seu uso deve ser personalizado de acordo com cada paciente e sua patologia. Sua utilização reduz a morbi-mortalidade e melhora a qualidade de vida dos pacientes.
Muito bem! Você concluiu a primeira etapa do módulo 1!
Siga para o próximo conteúdo e continue na jornada.
1.2 Saiba como garantir uma oxigenoterapia segura
Conheça os riscos associados e os cuidados essenciais para garantir que a oxigenoterapia domiciliar seja realizada de forma adequada.
Referências
Oxigenoterapia | Disponível aqui
Oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP) | 2000 | Disponível aqui
Gases medicinais - Informações gerais | 2024 | Disponível aqui
Composição do ar | 2024 | Disponível aqui
Tudo sobre Oxigenoterapia | Disponível aqui
Oxigênio Medicinal | Disponível aqui
OXIGENOTERAPIA HOSPITALAR–REVISÃO INTEGRATIVA BASEADA NA CONSCIENTIZAÇÃO E RECOMENDAÇÃO PARA UMA PRÁTICA SEGURA | 2024 | Disponível aqui
Avaliação da oxigenoterapia em pacientes adultos em um hospital de ensino de Sergipe | 2022 | Disponível aqui
Responsabilidade municipal de prestação dos serviços de oxigenoterapia domiciliar e seus contornos | 2009 | Disponível aqui
Análise do conhecimento dos profissionais de saúde sobre o uso de oxigenoterapia em um hospital universitário de Fortaleza-CE | 2017 | Disponível aqui